Bautista Antonelli e José Bonifácio de Andrada e Silva.
Neste último arquivo digital procuramos indicar pessoas e suas relações com as fortificações do antigo Sistema Defensivo do Porto de Santos.
SISTEMA DEFENSIVO DO PORTO DE SANTOS
BAUTISTA ANTONELLI, arquiteto militar da esquadra do almirante Diego Flores Valdez, durante o percurso de dois anos pela costa do Brasil, no início do longo período de união das corroas ibéricas (1580-1640). Antonelli projeto a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, inicialmente em taipa militar (1584) e, seis anos depois passou a ser o arquiteto militar das Antilhas. Quase todas as fortificações projetadas pela Família Antonelli, são hoje, Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Faremos esta homenagem por meio de uma interpretação da Mensagem a Garcia, um ensaio de uma lauda, mas deu origem a dois filmes e versões em trinta e sete idiomas, mundo afora. Hoje seria “viralizar”, pois no Google encontramos 10.700.000 resultados, às 11:43 do dia 23/07/2023.
Foi escrito de rompante, por Elbert Hubbard, na noite do aniversário de George Washington, 22 de fevereiro de 1899, um ano após o afundamento do navio USS Maine (15 de fevereiro de 1898), na embocadura da Baía de Havana, Cuba, fechando o acesso ao porto e servindo de pretexto para uma curta guerra entre os Estados Unidos e a Espanha. Os destroços do USS Maine hoje ocupam todos os espaços da Fortaleza de San Carlos, na embocadura da Baía de Havana, tendo do outro lado o Castillo del Morro. Próximo deles existe um túnel submerso atravessando um espaço semelhante ao da embocadura do Estuário de Santos.
O ensaio relata o fato do Lt Andre S. Rowan ter recebido das mãos do presidente dos Estados Unidos, Willian McKinley, uma mensagem a ser levada para um revolucionário, Garcia (Gen Calixto Garcia Iñiguez), em local incerto e não sabido, na Sierra Maestra, espinha dorsal da principal ilha do Caribe. Rowan colocou o envelope no bolso interno da jaqueta, fez continência e nenhuma pergunta sobre o enorme percurso no sudeste dos Estados Unidos, a cavalo, para alcançar o Mar do Caribe; navegar sorrateiramente, desembarcar em uma praia deserta na Ilha de Cuba e embrenhar-se na floresta para entregar a mensagem a Garcia. Destaca o ensaio motivacional: “Não é só de sabedoria livresca que a juventude precisa (...). Precisa, sim, antes de tudo, de um endurecimento das vértebras (...) para mostrarem-se altivo no exercício de um cargo, atuar com diligência, dar conta do recado”.
Mas, o que desejo explorar neste apelo ao “pertencimento”, é a semelhança arquitetônica entre o Castillo del Morro, em Havana, e a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, em Guarujá, SP. Ambas têm, como elemento definidor a geografia e não a geometria, comum na Europa; ambas foram propostas por Bautista Antonelli, arquiteto militar da esquadra do almirante Diego Flores de Valdés, no início do longo período de união das coroas ibéricas (1580-1640). Antonelli tornou-se arquiteto-chefe das Antilhas, em 1588.
“Barra Grande” é uma das poucas fortificações coloniais, mundo afora, que possui “certidão de nascimento” que tive o privilégio de consultar no “Archivo General de Indias”, Sevilha, Espanha, em relatório que Valdés enviou ao rei Felipe II, referindo-se a uma batalha ocorrida na Baía de Santos, no dia 23 de janeiro de 1583, contra dois navios ingleses comandados pelo almirante Edward Fenton. O navio Santa Maria de Begônia, sofreu sérias avarias e os seus marinheiros, armamento e equipamento foram usados na construção de “Barra Grande”, inicialmente em taipa militar.
Após uma viagem, em 2013, para participar de um congresso internacional do ICOFORT (Fortifications and Miliraty Heritage), visitando as fortificações da família Antonelli na região costeira do Levante Espanhol, entre Barcelona e Cartagena, tive a oportunidade de participar de outro congresso semelhante, no mesmo ano, em Cuba e visitar “Havana e suas fortificações”, declaradas Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Mas, o que importa explorar aqui é a indicação para o Patrimônio Mundial – em “conjunto de bem seriado” – de duas fortificações coloniais do Estado de São Paulo: Forte de São João (1551), Bertioga, e Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (1584), Guarujá. O processo indicativo tem validade de dez anos (2016-2025) e, para não perder o embalo, destaco sempre nas minhas “pregações” voluntárias que o longo percurso se assemelha a um arco-íris em busca de um pote de ouro (proverbio irlandês de autor desconhecido). Chegar ao pote de ouro não é tão importante quanto o aproveitamento do longo trajeto para vivificar o lado belo da arquitetura militar colonial.
JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, patriarca da nossa independência, serviu por cinco anos no Exército de Portugal, durante a expansão das tropas napoleônicas pela Península Ibérica, invadindo Portugal por três vezes.
Desempenhou diversas funções militares e alcançou o posto de tenente-coronel comissionado.
Por esta e outras razões maiores de sua formação profissional, nada mais justo que homenageá-lo, como o fizemos nas comemorações do bicentenário da nossa independência, ressaltando aqui, sua aproximação com as artes e operações militares.
Tanto assim, que as duas fortificações republicanas do antigo sistema defensivo do Porto de Santos, prestam homenagens a José Bonifácio e os Andradas.
BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Motivação indicativa da Linha do Tempo do Forte dos Andradas, Guarujá, SP.
“Disciplina militar prestante”, na formação profissional do Patriarca da Independência do Brasil.
José Bonifácio de Andrada e Silva, foi convocado para o Exército de Portugal no período da Guerra Peninsular (1807 a 1814), alcançando a patente de Tenente-Coronel, comandante de um Batalhão de Professores e Alunos da Universidade de Coimbra (UC), na Batalha do Rio Côa (1810). Sua experiência militar consta dos anais da UC e, sem dúvida, influiu na sua formação acadêmica e muito contribuiu para que ele viesse a se tornar o Patrono da Independência do Brasil.
Foram três os momentos das intervenções das tropas de Napoleão Bonaparte em Portugal: em novembro de 1807 (apoderaram-se da cidade do Porto, motivando a transferência da Família Real para o Brasil, em 1808); em março de 1809 (atacaram a cidade de Coimbra); e, em agosto de 1810 (foram derrotadas nas Linhas de Torres Vedras). Em outubro de 1811 deixaram o território português.
Portugueses de todos os níveis sociais, construíram, entre 1809 e 1812, as Linhas de Torres Vedras, um rudimentar conjunto de 152 fortificações, ao Norte de Lisboa. Sem dúvida, a experiência na construção de fortificações nas coloniais, com orientação de engenheiros portugueses e mão-de-obra dos habitantes locais foi decisiva para a expulsão definitiva das tropas de Napoleão, em 1811.
Por estas e outras razões maiores, as duas fortificações republicanas de defesa do Porto de Santos, terra natal de José Bonifácio, homenageiam os Andradas: Forte dos Andradas e Grupo José Bonifácio.