ARTIGOS E VÍDEOS PUBLICADOS EM 2025, NO JORNAL A TRIBUNA
Veja também os artigos publicados em anos anteriores, por meio do link indicado no final do textos deste arquivo.
JT1 - REPORTAGEM EM 10/02/2025, SOBRE A FORTALEZA DE SANTO AMARO DA BARRA GRANDE, GUARUJÁ, SP.
CLIQUE sobre a figura acima para alcançar uma breve reportagem sobre a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, Guarujá, SP, mais expressivo conjunto arquitetônico-militar colonial do Estado de São Paulo.
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sobre figura acima para acessar um programa com ênfase nas fortificações coloniais do Brasil.
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RATANABÁ, A CIDADE PERDIDA
Segundo alguns pesquisadores, existiu uma cidade perdida ao lado do Forte Príncipe da Beira, Rondônia, conhecida pelo nome Ratanabá, palavra que significa “dos reinos para o mundo", na linguagem Irdin. Para eles, as ruínas lá existentes tiveram origem anterior à colonização portuguesa, indicando “evidências de sítios de grande dimensão, estradas e aterros construídos há muito tempo".
Príncipe da Beira é uma impressionante fortificação colonial erguida logo após a assinatura do Tratado de Madrid, de 1750, ratificado pelo Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, definindo os limites entre as colonizações portuguesa e espanhola na América do Sul. Para se chegar ao “Príncipe da Beira’ e visitar as ruínas é preciso enfrentar 739 Km a partir de Porto Velho, percorrendo uma estrada em péssimo estado de conservação. Não há voos, excetos os militares pois ali existe um pelotão avançado do 6º Batalhão de Infantaria de Selva. Tivemos a oportunidade de ir lá por duas vezes com alunos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e, com enorme satisfação, pudemos construir a Linha do Tempo do 6ºBIS, num enorme painel em acetato colante.
O forte colonial muito se assemelha às fortificações francesas do chamado sistema Vauban (Sébastien Le Prestre de Vauban) e está no caminho percorrido entre 1647 e 1651 por Raposo Tavares, indicado pelo governo de Portugal para reconhecer a atual fronteira terrestre do Brasil, subindo o Rio Paraguai e descendo os rios Guaporé, Madeira e Amazonas até a sua foz. A epopeia de Raposo Tavares, acompanhado por cerca de dois índios, poucos paulistas e alguns militares do exército de Portugal, percorreu mais de dez mil kms, tendo retornado a São Paulo, por mar, a partir de Belém. Desgastado fisicamente, faleceu dois anos depois, conforme consta do livro de Pedro Pinto – Raposo Tavares, o último bandeirante – da editora Planeta, 2012.
O forte tem a configuração de uma estrela de quatro pontas, com duas paredes de pedras e entre elas uma espécie de “caixa de brita”, usada, tempos passados nas corridas de automóvel, para reduzir a velocidade de um carro desgovernado. O espaço entre as paredes de pedra tem por finalidade reduzir, no caso, o impacto de tiros direto de canhões.
Sem dúvida, trata-se de um exemplar arquitetônico de valor inestimável e bastante representativo da enorme persistência dos poucos portugueses, habitantes da terra e indígenas que atuaram na construção deste imenso país chamado Brasil.
Elcio Rogerio Secomandi / Academia Santista de Letras
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O VENTO PAROU...
Jornal A TRIBUNA, 12/02/2025
Recebi uma charge de um inglês identificado como Gorsly, com o desenho estilizado de uma embarcação viking, na qual o timoneiro sugere a substituição das velas por um conjunto de remos improvisados. A falta de um vento favorável pode ser a causa de muitas desistências de ações que poderiam dar certo, mas que não ocorrem pelo simples fato de os atores não saberem tirar vantagem da própria desvantagem.
Infelizmente poucos sabem ajustar as velas de acordo com os ventos que estão soprando e muitos sequer sabem trabalhar em equipe. As vezes uma observação descompromissada de alguém que não conhece um problema qualquer pode indicar uma solução inusitada, especialmente quando se utiliza a técnica de um “brainstorming”, também chamada de “tempestade cerebral”.
Nos bons tempos de aula sobre Planejamento Estratégico, eu colocava para os alunos um problema sobre a retirada de um equipamento enorme que havia sido instalado no andar superior de uma antiga fábrica. Com os “puxadinhos” que se fazem nas construções industriais, não havia meio de retirar o equipamento sem abrir uma “cratera” no assoalho para descer as peças enormes. Para encontrar uma solução para o problema, um grupo de trabalho estava discutindo, horas a fio sem chegar a uma solução. Porém, o servente do café, intrometido como sempre, disse: “joguem pela janela!” Alguém captou a mensagem e pronto! Surgiu uma ideia “genial” de usar as janelas, colocando rampas de aço até alcançar a carroceria do caminhão.
É comum o surgimento de paradigmas na busca de uma solução para um problema qualquer. Paradigmas, segundo Carl von Clausewitz (1780-1831) “são muletas para quem não tem imaginação”, limitando a criatividade como atributo indispensável para quem deseja progredir numa profissão qualquer. Hoje em dia, como sabemos, tudo o que pode ser considerado “bom” está ultrapassado. Haverá sempre alguém criando nossos métodos de atuação diante de um problema qualquer. Portanto, sugiro ao leitor/leitora desta mensagem uma atenção maior para alguns ensinamentos, tais como: “A sorte ajuda a mente preparada” (Pascal); “Os impérios do futuro serão impérios da mente” (Churchill); ou, segundo Einstein: “A imaginação é mais importante que o conhecimento”, pois este pode ser copiado, pirateado, ajustado ao longo do tempo: a imaginação, ao contrário, é inerente ao indivíduo que sabe explorá-la.
Elcio Rogerio Secomandi
Academia Santista de Letras
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DIALÉTICA DE VONTADES
A TRIBUNA, 05/02/2025
A dialética de vontades trata da aplicação do poder de dissuasão na resolução problemas e situações potencialmente conflitantes. São dois os seus elementos distintos e essenciais, segundo o general francês André Beuafre (1902-1975): 1 - A escolha do ponto decisivo que se quer atingir e 2- A escolha da manobra apropriada para alcança-lo.
A melhor maneira de se prever o futuro é, sem dúvida, por meio de uma análise hipotético-dedutiva, cujos elementos essenciais são: ... é a hipótese básica; , um acréscimo às considerações básicas; , resultado esperado; , dependências que influenciam o resultado esperado e , concluindo o processo.
Talvez o melhor exemplo tenha vindo de Platão (428 a.C.-347 a.C.), quando, segundo alguns autores, utilizou hipotéticas situações vividas pelos tripulantes de um navio à vela, para “definir” o conceito de República. Segundo Platão, o comportamento de uma tripulação de um navio assemelha-se à vida em uma cidade, onde todos devem ter suas funções a realizar. Assim, para ele, uma tripulação pessimista apenas se queixa do vento e nada faz; uma tripulação otimista, espera que o tempo mude; mas, a realista, ajusta as velas de acordo com os ventos que estão soprando. A República é um ajuste de velas de acordo com os ventos que estavam soprando naquela época, antes de Cristo.
Um bom exemplo sobre análise hipotético-dedutiva ocorreu na Batalha de Falaise, entre 12 e 21 de agosto de 1944, dando origem ao confronto decisivo para a libertação da França, durante a Segunda Guerra Mundial. Trata-se de um estudo interessante pois ambos os lados levantaram diversas hipóteses, das quais o que seria correto para ambos os lados previa um recuo das tropas alemãs de Von Kluger, para as margens do Rio Sena evitando um combate decisivo em Falaise. Mas Hitler não concordou e Von Kluger suicidou (normalmente usa-se “se suicidou”, para ficar mais claro, mas suicidar só pode ser a si próprio), pois tinha certeza da derrota iminente. Bradley, comandante do Exército aliado, teve, assim, “uma oportunidade que chega a um comandante não mais do que uma vez em um século”, o que lhe permitiu “destruir um exército hostil inteiro e percorrer todo o caminho até a fronteira alemã”. As hipóteses levantadas por ambos os lados foram seis ao todo, sendo a mais provável a de Bradley não fazer nada e esperar a decisão de Von Kluger, cuja lógica militar o levaria ao retraimento das tropas alemãs para a margem do Rio Sena, adiando um combate decisivo. Ou seja, ambos optaram pela “arte do não fazer”, evitando um combate decisivo, como acabou ocorrendo por insistência de Hitler, abreviando a retomada da França e o final da 2ª Guerra Mundial.
A arte da aplicação do poder para alcançar um objetivo qualquer deve, portanto, se iniciar por meio de uma análise hipotético-dedutiva, cujos modelos e métodos de aplicação estão disponíveis no portal da Google. Infelizmente poucas pessoas com poder de mando se utilizam desta arte milenar.
Elcio Rogerio Secomandi – Academia Santista de Letras
ZÉ CORNETEIRO
Um homem simples da nossa região litorânea está sempre disposto, nos finais de semana, a levantar o astral das pessoas que circulam no centro da cidade de Santos. Creio que os leitores de A TRIBUNA já o viram à caráter em reportagem de página inteira, tempos passados. Como ator de rua “ele age, reage e se comporta, de acordo com os valores e princípios que orientam” a sua vida tão simples de microempresário do ramo de conserto de brinquedos.
Tenho uma admiração enorme pelo amigo Zé Corneteiro e me faz lembrar de um ensaio escrito por Elbert Hubbard – Mensagem a Garcia –, publicado como um enxerto sem título na revista Philistine de março de 1899, dando origem a dois filmes sobre o assunto. Embora Hubbard tenha afirmado "Eis um homem cuja forma deveria ser imortalizada em bronze e a sua estátua erigida em todos os colégios da Terra" nos indica a importância da concentração da mente numa determinada coisa e fazê-la.
Zé Corneteiro, tem história centrada em um personagem ímpar, que se iniciou a partir de uma viagem que fizemos, eu e minha esposa, pela Europa Oriental. Na República Checa tivemos a oportunidade de ver ex-combatentes vendendo nas ruas as suas lembranças da guerra de libertação da extinta União Soviética e do desmembramento da também extinta Iugoslávia, em 1922. É triste, sem dúvida, em todos os seus aspectos, vem ex-soldados de uma guerra justa vendendo suas lembranças para sobreviver.
A corneta com alamares de guerra, nos leva a refletir sobre uma frase de Heric Hartmann (1922 – 1993), piloto de caça alemão na 2ª Guerra Mundial: “A guerra é um lugar onde jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam entre si, por decisões de velhos que se conhecem, se odeiam, mas não se matam”. Parecer paradoxal, o fato de um dos mais populares instrumentos de guerra atrair tantos jovens pela exaltação ao espírito de combate, assim descritos por Sun Tzu, c.500aC: os hinos aguçam a coragem, a corneta aguça a obediência; o tambor, a flâmula e as bandeias, aguçam respectivamente, a cadência, o comando e a vontade de acompanhar uma liderança marcante. O som de uma corneta ou os acordes de uma banda musical, seja qual for, sempre aguçam os ouvidos e a vontade de quem está ao alcance dos seus acordes: “coloque uma banda na rua e o povo vai atrás”, disse Napoleão Bonaparte.
Pena que roubaram a corneta original do Zé Corneteiro, pois ela era de cobre e tinha alamares de guerra. Mas ele não desistiu: comprou uma corneta simples de carnaval e voltou à luta, como um soldado no “corpo-a-corpo”. Parabéns! Zé Corneteiro.
Elcio Rogerio Secomandi – Academia Santista de Letras
Dissertar, defender e justificar
Eis a questão! Dissertar, defender e justificar são os três verbos indicativos de ações a realizar, fundamentais para quase todas as atividades humanas que precisam ser repassadas por escrito, defendidas verbalmente e fundamentadas em fontes de consultas confiáveis.
Segundo Petter F. Drucker, maior expoente da Administração moderna, saber interpretar corretamente uma proposição é mais importante que o encontro de soluções, pois, segundo ele, “nada pior que a resposta certa para uma questão interpretada erroneamente”. Por exemplo, se a questão dissertativa for sobre a “influência da barbatana do camarão na variação da maré”, quem estudou e tem bons conhecimentos sobre o crustáceo, provavelmente irá escrever páginas inteiras, sem atentar-se para uma proposta focada apenas na “influência” – absurda, claro – da barbatana na variação da maré.
Interpretar corretamente uma missão é tão importante ao ponto de levar Napoleão Bonaparte a manter no seu Estado-Maior o coronel menor inteligente do Exército francês (mais burro seria ofensivo a todos eles) e nenhuma ordem de operações era emitida antes que o referido coronel a lesse e interpretasse. Por uma razão simples, mas decisiva num “teatro de operações” envolvendo quase toda a Europa:_ se aquele coronel obtuso a entendesse, provavelmente todos os demais comandantes operacionais (coronéis, via de regra) a entenderiam também.
Para alertar os estudiosos sobre a importância dos verbos indicativos (acima), resolvemos reproduzir em oito idiomas, treze palestras realizadas no exterior sobre o lado belo da arquitetura militar coloniais que ainda permeia o vasto perímetro do Brasil, disponibilizando-as em website que se abre com o sobrenome do autor desta comunicação. O modelo dissertativo, expositivo e referencial aplicado nos textos das referidas palestras está assentado sobre o guia para apresentação de trabalhos nos seminários do Conselho Internacional de Museus e Sítios e no Comitê Internacional sobre Fortificações (ICOMOS/ICOFORT), dos quais fazemos parte. Todos os arquivos estão estruturados no formato tradicional de iniciação científica.
As consultas ao projeto educacional de domínio público, surpreende-nos, positivamente, pelo fato de estar ultrapassando uma centena de visitas/mês, em diversos países, o que nos indica um desejo maior das pessoas – em particular os estudantes – em aprofundar conhecimentos sobre a arte de colocar no papel algumas ideias fundamentais que permitam comprovar o domínio de determinados conhecimentos acadêmicos. Esperamos que os modelos disponibilizados tenham alguma utilidade para quem precisa demonstrar habilidades no emprego dos verbos indicativos utilizados em quase todos os modelos de processo seletivo.
Elcio Rogerio Secomandi / Membro da Academia Santista de Letras
REMINISCÊNCIA DE UMA VIDA NA CASERNA
Há alguns anos, no passado, fui à Embaixada Americana para renovar o meu visto de entrada naquele país. Um sargento do Exército Americano que organizava a fila de espera reconheceu a minha situação de militar, talvez pelo olhar e atitude que tomei instintivamente. Perguntou-me então: “O Sr é militar? – Sim, respondi! – Então me acompanhe, por favor!”.
Percebi o valor imenso que os militares americanos dão aos soldados, não importa de que país ou região mundo afora. Lembrei-me então de uma frase do presidente dos EEUU, John F. Kennedy, dirigindo-se aos soldados: “À Pátria tudo se dá, nada se pede, nem mesmo a compreensão”.
Infelizmente, no Brasil, a alta consideração que a população tinha para com os nossos soldados – de todos aos postos, graduações ou recrutas – está se perdendo por ações que não me compete aqui analisar. Mas... haverá sempre um momento para se recordar um trecho da carta que Muniz Barreto escreveu em 1893, a El-Rei de Portugal, D. Carlos I.
“Senhor, existem, em vosso reino, umas casas onde os homens vivem em comum, comendo do mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De manhã, a um toque de corneta, levantam-se para obedecer. De noite, a outro toque de corneta, deitam-se obedecendo. Da vontade fizeram renúncia, por ofício desprezam a morte e o sacrifício físico. Quando se põem em marcha, a sua esquerda vai a coragem e à direita a disciplina”.
Esta colocação visando valorizar o soldado e sua vida em caserna, nos faz lembrar que tivemos, há muitos anos passados, a oportunidade de lidar com grupos de trabalhadores em greve, numa grande indústria da nossa região. Os trabalhadores se organizavam para uma enorme manifestação pública. Nós éramos apenas uma centena de soldados com a missão de proteger a grande indústria de propriedade governamental. Ao anoitecer, tivemos que dialogar com mais de dois mil grevistas, subindo em um coreto para dizer-lhes que a nossa missão era apenas a de proteger a indústria e o emprego de todos eles: “Se vocês tentarem entrar na área industrial vão ter que passar sobre estes jovens soldados. Mas, se forem para a cidade, nada temos a opor”. Bem, fomos aplaudidos e cada um seguiu o seu caminho.
Esta breve recordação comentamos recentemente com o amigo João Jorge Peralta, há época, um dos trabalhadores da grande indústria e hoje um dos meus melhores amigos. Revivemos, assim, um passado não muito recente, com muita compreensão sobre os tempos bons e ruins que a vida nos prepara.
Elcio Rogerio Secomandi
Ex-integrante da Fortaleza de Itaipu / do extinto 6º GACosM